Nicolina Pinto do Couto, nossa primeira escultora.
Nicolina Pinto do Couto foi a primeira escultora brasileira
com uma quantidade considerável de trabalhos
representativos, no final do século XIX.

A artista nasceu em Campinas (SP), em 1866, e aos 16 anos se casou com o médico Benigno de Assis, com quem teve oito filhos. Não há registros de seu início nas artes, mas, em 1897, aos 31 anos, passou a estudar na Escola de Belas Artes do Rio de Janeiro, porque somente três anos depois da Proclamação da Republica, em 1892, foi permitida a matrícula de mulheres na instituição. Nessa época, ela era conhecida como Nicolina Vaz de Assis, seu nome de casada.

Em 1905, Nicolina foi imortalizada em retrato executado pelo pintor Eliseu Visconti, exposto no Salão daquele ano, considerado pelos críticos uma obra-prima que detectava, com sensibilidade, o “espírito” da retratada, mais do que seus dotes físicos – uma prova de sua reputação incomum no mundo das artes brasileiras.

Entre 1904 e 1907, Nicolina estudou em Paris com uma bolsa de estudos fornecida pelo Estado de São Paulo e o apoio do marido. Em 1907, voltou ao Brasil para participar do Salão Nacional, expondo um conjunto de obras, quatro em gesso – “Busto de Gravina”, “Cabeça Risonha”, “Meditação” e “Oração” – e um bronze, “O Segredo”. Por todas elas, obteve a medalha de prata, premiação considerada louvável.


A partir dai, a escultora já era conhecida e, junto com outros artistas de renome, participou da decoração dos edifícios da Exposição Nacional de 1908, o que lhe rendeu uma medalha de ouro.

Seu primeiro trabalho público foi realizado no Passeio Público, onde a artista produziu um conjunto escultórico para o aquário criado por Pereira Passos, além de uma fonte de bronze, um antigo deus das fontes de água doce que reflete sua imagem no lago. O Tritão se situava no aquário, mas, com a demolição deste em 1938, provavelmente por esta razão foi transferido para o lago. A escultura foi roubada em 1994 e substituída por uma réplica em 2004.

Em 1910, com a reforma da Quinta da Boa Vista promovida pelo prefeito Serzedello Corrêa, Nicolina passou a ser a escultora oficial do Ministério da Viação e Obras Públicas. Para o parque, executou os bustos em bronze de Nilo Peçanha e de Grandjean de Montigny, hoje na Casa França Brasil. O busto do paisagista do parque, Auguste Glaziou, ela executou em mármore de carrara. Nicolina realizou também dois conjuntos: um em mármore, chamado de “Canto das Sereias”, e outro em bronze, chamado “Serpente”. Essas obras são o maior legado público deixado pela escultora na cidade.

   

O conjunto “Canto das Sereias” é um bloco de mármore maciço no qual a artista esculpiu um homem caído sobre um rochedo entre várias sereias, sendo que uma delas se volta para ele e o segura pelos braços, como se ele estivesse desacordado pelo som da música entoado por elas.

 

A “Serpente”, erigida com perfeição na execução de sua pele, parece emergir do lago. Originariamente, era um chafariz que jorrava água alto.

 

Em 1913, Nicolina apresentou mais quatro obras aos salões: “Amor Selvagem”, “Adormecida”, “Última Carta” e “Busto do Dr. Francisco Pereira Passos”. Em 1915, foram duas obras: “A Primeira Carta” e “Cabeça de Cristo”. Em 1916, vieram “República do Brasil”, executada em mármore, além de um bronze, “Estudo de Criança”.

Nicolina também executou duas obras tumulares: uma para a sepultura de José Grey, situada no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, e outra em São Paulo.

Contudo, sua maior obra está na capital paulista, a “Fonte Monumental”, de 1923, situada na Praça Vitória, hoje chamada Praça Júlio de Mesquita, na ligação entre o centro da cidade e o bairro dos Campos Elíseos, local de residência da elite paulistana.



Em janeiro de 2016 na exposição Memória da Amnésia realizada pela historiadora, artista e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, Giselle Beiguelman, no Arquivo Histórico de São Paulo (Praça Coronel Fernando Prestes, 152 – Luz), reuniu fragmentos de monumentos que um dia ornaram os logradouros públicos da cidade e, atualmente, se encontravam em um depósito da Secretaria Municipal de Cultura. no Canindé. Entre as peças expostas duas peças de Nicolina foram mostradas, "Lagosta" e "Face Humana" apresentadas a seguir.

Em 20 de Julho de 1941, as mãos de Nicolina pararam e a arte brasileira perdeu uma de suas mais notáveis e corajosas escultoras.

Nicolina Pinto do Couto, a maestrina Chiquinha Gonzaga, a pintora Georgina de Albuquerque são exemplos de mulheres que encararam a sociedade preconceituosa da época, na busca por um espaço profissional nas artes. Todas foram reconhecidas e abriram os caminhos para as gerações seguintes de mulheres artistas e para as mulheres em geral.



Fonte:
http://ashistoriasdosmonumentosdorio.blogspot.com.br