Histórias curtas sobre Grandes Bairros
Botafogo – No Século XVI, a enseada era chamada de Le Lac (o lago) pelos
franceses, que acabaram derrotados pelos portugueses. Francisco Velho,
que lutou ao lado de Estácio de Sá, foi, então, residir na área, que
passou a ser chamada de Enseada de Francisco Velho. Após a morte de Velho,
as terras foram cedidas ao lugar-tenente João de Souza Botafogo e ganharam
o nome do novo dono. A origem desse sobrenome é controversa. Alguns
acreditam que João de Souza fosse chamado assim por ser o encarregado
de botar fogo ou pólvora nos canhões de guerra. Mas há quem defenda que
Botafogo já era um nome de família em Portugal.
Bonsucesso – Integrante das tropas de Estácio de Sá, o português Antônio
da Costa recebeu, após a vitória contra os franceses, terras em região
litorânea, onde ficava a Enseada de Inhaúma. Nessas terras, surgiu a
Fazenda do Engenho da Pedra, por volta de 1610. A fazenda abrangia o
que hoje são os bairros de Olaria, Ramos, Bonsucesso, parte de Manguinhos
e das comunidades da Maré. Consta que, em 1738, a fazenda ou parte dela
pertencia a Cecília Vieira de Bonsucesso, a quem se atribui a reforma
da antiga capela de Santo Antônio. Em decorrência disso, os canaviais
próximos passaram a ser chamados de os campos de Bonsucesso.
O sobrenome da benfeitora da capela acabou passando ao próprio engenho e,
posteriormente, a um dos bairros.
Campo Grande – Um vasto campo foi exatamente o que os primeiros colonizadores
viram ao chegar a essa região. Ela fazia parte da imensa Sesmaria de Irajá,
sendo desmembrada desta última em 1673, quando foi doada a Barcelo Domingues.
No mesmo ano, foi criada a Paróquia de Nossa Senhora do Desterro, em torno
da qual desenvolveu-se o primeiro povoado. A região começou a prosperar no
Século XVIII, com a cultura do café, e depois, já no Século XX, com
a citricultura, mas manteve o nome que refletiu a primeira impressão
dos colonizadores.
Castelo – Após a morte de Estácio de Sá, em 1567, o governador-geral
Mem de Sá ordenou a mudança da sede do Rio, então próxima ao Pão de Açúcar,
para uma área mais segura, no Morro do Descanso. Lá foi construído o Forte
de São Sebastião, que o povo apelidou de Castelo. No Século XIX, o Descanso
era chamado de Morro do Castelo. Além do forte, lá estavam várias construções
históricas, como o Colégio dos Jesuítas, fundado pelos padres Manoel
da Nóbrega e José de Anchieta. Em 1920, o morro foi demolido. A área que
ele ocupava forma hoje a Esplanada do Castelo, no Centro.
Copacabana – Palavra de origem quíchua, índios nativos do Peru e da Bolívia.
Significa mirante do azul e designa uma península do Lago Titicaca, na fronteira
entre os dois países, onde há uma imagem da Virgem Maria que se acredita
milagrosa, chamada de Nossa Senhora de Copacabana. Réplica dessa imagem
foi trazida ao Rio de Janeiro e colocada, inicialmente, na Igreja da
Misericórdia, no Centro, e, depois, numa ermida de pescadores, no atual
Posto 6. Náufrago, o frei Antônio do Desterro foi parar naquela praia
e atribuiu à Santa sua salvação, construindo para ela uma capela. Até o
Século XIX, Copacabana permaneceu de difícil acesso e pouco povoada.
Em 1855, José Martins Barroso, morador de Botafogo, tomou a iniciativa
de fazer uma estrada (atual Ladeira dos Tabajaras) por onde pudessem passar
os coches, e a praia começou a ser procurada para os piqueniques da corte.
Engenho Novo – Os bons resultados do primeiro engenho de açúcar construído
pelos jesuítas (Engenho Velho, na atual Tijuca), animou-os a construir outro
mais ao norte, em 1707, que ganhou o nome de Engenho Novo. Como ocorreu
com outras terras da Zona Norte cedidas pela Coroa aos jesuítas, as do
novo engenho foram retomadas, dividas e vendidas, em 1761. O povoamento da
região, no entanto, só tomou fôlego no Século XIX, com a chegada da
linha férrea. Grande parte da população foi formada por negros libertos
da escravidão, após a assinatura da Lei Áurea (1888).
Flamengo – Alguns historiadores acreditam que o nome da praia e do bairro
deva-se à presença de aves semelhantes a flamingos vistas por aquelas paragens
até o Século XIX. Outros, porém, defendem que ali teriam morado holandeses,
então chamados flamengos. Eles teriam vindo de Pernambuco, depois de
capturados nas batalhas contra a invasão holandesa naquele Estado,
no Século XVII. Na época da fundação da cidade, a praia era chamada de
Aguada dos Marinheiros ou de Carioca, porque nela desembocava o Rio Carioca,
onde os marinheiros iam se abastecer de água doce. Depois teve também o
nome de Praia do Sapateiro, por lá ter residido um sapateiro, Sebastião
Gonçalves, cujas terras iam do Morro da Viúva às margens do Rio Carioca (atual
Praça José de Alencar).
Gamboa – Existia no local uma praia onde os pescadores armavam gamboas
(ou camboas), pequenos cercados usados para reter os peixes que ali entravam
quando a maré subia. A praia foi aterrada e em seu lugar abriu-se a rua
principal do bairro, o Caminho da Gamboa. Esta depois foi chamada Rua do
Cemitério, porque lá ficava o cemitério para onde eram levados os escravos
recém-chegados da África que morriam nos armazéns do Valongo. Atualmente é
a Rua Pedro Ernesto.
Gávea – Os navegantes portugueses deram esse nome à pedra cujo formato
acharam parecido com o de uma vela, chamada gávea, de antigas embarcações.
Com o passar dos anos, a denominação se estenderia ao bairro próximo, cuja
primeira edificação foi um engenho de açúcar mandado construir por
Antônio Salema (governador da cidade e de toda a repartição sul do Brasil
de 1575 a 1577), após expulsar da área alguns corsários franceses e
índios tamoios que ainda resistiam por lá.
Ilha do Governador – Originariamente chamada de Ilha de Paranapuã, era um
dos últimos redutos dos franceses na região da Baía de Guanabara e berço do
cacique temiminó Araribóia. A ilha foi tomada pelos portugueses três dias
depois da vitória na Batalha de Uruçumirim (20/01/1567), contra franceses
e tamoios. No ano seguinte, Mem de Sá nomeou seu sobrinho, Salvador Correia
de Sá, como governador da cidade do Rio de Janeiro. O novo governador mandou
então construir em Paranapuã um engenho de sua propriedade, e a ilha ganhou
o nome atual.
Irajá – Acredita-se que, em Tupi, a palavra designasse uma espécie de abelha,
significando também pote de mel ou, segundo o pesquisador Teodoro Sampaio,
o mel brota. O bairro teve origem na maior sesmaria (terra cedida pelo
Coroa a colonizadores) do Rio de Janeiro, que compreendia até a atual Região
de Campo Grande. Quem a recebeu foi Antonio de França, em 1568, fundando ali o
Engenho de Nossa Senhora da Ajuda. Já o jesuíta Gaspar da Costa, que o
sucedeu nas terras, em 1613, ergueu a Capela Barroca de Irajá.
O filho de Gaspar transformou a capela em Paróquia de Nossa Senhora da
Apresentação de Irajá, que veio a se tornar a atual Igreja Matriz do bairro.
Além de produzir açúcar, a região tornou-se importante abastecedora de
gêneros alimentícios e material de construção para a cidade, ainda
no Século XVII. Como as outras sesmarias no Rio, também passou por sucessivos
desmembramentos que originaram vários bairros do subúrbio.
Jacarepaguá – Na língua Tupi, significa lagoa baixa dos jacarés. No Século XVI,
o governador Salvador Correia de Sá depois de conceder uma sesmaria – que ia
da restinga da Tijuca a Guaratiba – a dois ex-combatentes na guerra contra
os franceses que pouco ou nada fizeram com as terras, passou-as a seus dois
filhos, Martim e Gonçalo, que as dividiram. Os irmãos Sá e seus descendentes
construíram vários engenhos de açúcar, dando início aos primeiros povoados.
O filho de Martim, Salvador Correia de Sá e Benevides, governador da cidade
em 1637-42, 1648 e 1660-61, ficou com o que é hoje a região de Jacarepaguá.
Ao longo dos anos, as terras e engenhos foram sendo arrendados e vendidos,
mas parte continuou pertencendo aos Sá até o Século XIX.
Praça Seca – Ainda no Século XVI, os irmãos Martim e Gonçalo Correia de Sá,
filhos do governador-geral Salvador Correia de Sá, tomaram posse de uma vasta
sesmaria concedida por seu pai. Parte dessas terras permaneceu nas mãos
da família por muitas gerações. No Século XVIII, o 4º Visconde de Asseca
(Martim Correia de Sá Benevides Velasco), descendente direto do primeiro
Martim, doou à comunidade uma área para a criação de um jardim. O local ganhou
o nome de Largo do Visconde de Asseca, depois Largo d'Asseca, por fim
transformado, no linguajar do povo, em Praça Seca.
Realengo – Há duas hipóteses para a origem do nome desse bairro. A primeira
é de que se trata de uma abreviatura de Real Engenho (Real Engº), local
onde D. Pedro I pernoitava quando ia para a Fazenda de Santa Cruz. Porém, o
termo realengo existe na Língua Portuguesa, e, segundo o Dicionário Aurélio,
origina-se do latim regalengu, que significa “régio, real, pertencente ou
relativo ao rei ou à realeza, digno do rei”. Ainda segundo o Aurélio, no
Sul do Brasil, chamam-se realengas as coisas públicas ou que não têm dono.
No início da colonização, a área de Realengo fez parte da Sesmaria de Irajá.
Santa Cruz – Em 16 de janeiro de 1567, as terras que hoje formam o bairro
foram cedidas a Cristóvão Monteiro, que fez parte das tropas de Estácio de Sá.
Depois foram passando às mãos da Companhia de Jesus, por meio de doação,
compra e trocas por outras propriedades, e formaram uma extensa fazenda.
Todos os anos, em maio, celebrava-se ali a Sagração da Santa Cruz, em torno
de uma grande cruz de madeira erguida pelos jesuítas. Daí veio o nome da
fazenda e, depois, do bairro.
São Cristóvão – Ninguém imaginaria, mas já existiu uma praia em São Cristóvão.
Acredita-se que, junto a ela, Mem de Sá estabeleceu uma grande aldeia de índios
temiminós, seus aliados, no Século XVI. Já em 1808, nada mais restava
dessa aldeia, quando D. João VI mandou construir na praia uma ponte de
desembarque para chegar à quinta de Elias Antônio Lopes (a Quinta da Boa Vista),
onde a Família Real Portuguesa instalou-se. O terreno de Lopes ia das
margens do Rio Maracanã até a praia, e era um dos locais mais
aprazíveis da cidade. A igrejinha de São Cristóvão, ali erguida pelos jesuítas
por volta de 1627, emprestaria seu nome ao futuro bairro, que acabou tendo
sua praia aterrada.
Tijuca – Na língua dos indígenas, significa terreno argiloso e lamacento.
Conta o historiador Brasil Gerson que Salvador Correia de Sá, nomeado
governador da cidade por Mem de Sá em 1568, logo ocupou parte da região
com lavouras e engenhos de açúcar, que seriam passados a
seus descendentes por várias gerações. Mas a maior parte do que hoje
é o bairro integrava a imensa sesmaria (terra cedida pela Coroa Portuguesa)
dos jesuítas. Eles construíram ali o que seria conhecido como o Engenho Velho,
ao lado de uma igrejinha por eles edificada em 1583, e que deu origem
à atual Igreja de São Francisco Xavier. No Século XVIII, a Coroa retomou
as terras, dividiu-as e vendeu-as, dando surgimento a várias chácaras
e sítios.
Urca – Embora ali tenha sido fundada a cidade, com sua primeira vila,
o bairro propriamente dito, tal como existe hoje, surgiu somente nas
primeiras décadas do Século XX, em área aterrada, como parte de um grande
empreendimento imobiliário. Nada restou da antiga Vila Velha, onde morou
e morreu Estácio de Sá. O nome Urca data do Século XVII, e foi dado ao
morro contíguo ao Pão de Açúcar, devido à sua semelhança com embarcação
usada naquela época.
FONTE: NEYLA 19/09/2005