Museu da Imagem e do Som



Desde os seus primórdios o Rio concentra grande parte da indústria cultural e criativa brasileira. O novo Museu da Imagem e do Som será o museu da identidade carioca, caracterizada por essa produção artística. “O turista que vem ao Rio e deseja conhecer a cidade, ou mesmo o país, terá que visitar o MIS”, afirma Hugo Sukman, curador do museu. “Existe um jeito, uma bossa carioca que conquista o Brasil e forja a imagem do país no exterior”, conclui Sukman.

A curadoria, assistida por consultores de conteúdo e de acervo, trabalhou em parceria com Daniela Thomas e Felipe Tassara, responsáveis pela expografia. O percurso do museu foi construído com base em duas ideias: a da rua como local de entretenimento e como símbolo da criação popular, que representa grande parte da produção artística da cidade. Assim, será proposto aos visitantes um passeio pelo acervo da instituição, pela cidade e pelo tempo.

Com 9,8 mil metros quadrados de área construída, o prédio será dividido em oito pavimentos, além de hall de entrada, subsolo e terraço, e seis níveis expográficos, com diferentes experiências:

BAIXO ATLÂNTICA

Logo na entrada, o museu fará referência aos “baixos” da cidade, transformando o lobby em um ponto de encontro. Para o espaço, as equipes de curadoria e expografia criaram um conceito de banca de jornal – em alusão ao hábito do carioca de parar para ler as manchetes –, onde museu possa pulsar como a cidade. Diariamente, haverá uma mini exposição sobre algum tema relevante, que pode ser uma efeméride ou um acontecimento factual. “Entregaremos 365 dias prontos para a futura gestão do museu, como sugestões. Mas esperamos que sejam adequados à pauta do dia, que pode ser um Fla x Flu, por exemplo, uma chuva forte etc.”, adianta Sukman. O térreo também abrigará uma livraria, um mezanino, onde serão montadas exposições temporárias, e um “bar de praia”, que se estenderá pela calçada.

ESPÍRITO CARIOCA

O primeiro nível de exposições terá três salas dedicadas a mostrar o Humor, a Rebeldia e a Festa, reflexos da alma do carioca. No Salão do Humor Carioca, o visitante terá a oportunidade de ver o humor tratado como espírito (a irreverência, a tradição de se fazer piada com tudo, a quebra de protocolos e barreiras sociais, a abordagem de questões políticas e sociais, na imprensa e nas artes) e como expressão (os comediantes e humoristas profissionais em rádio, cinema, teatro e TV), “emoldurado” em telas. Frases típicas, clássicas, também estarão espalhadas pelas paredes. Em seguida, o percurso de visitação conduz o público para a sala Rio 40 graus ou Quando a cidade entra em ebulição, onde sete histórias diferentes – dança, teatro, cinema, literatura, artes visuais e rock, além da narrativa geral – serão contadas em multitelas e vão refletir a ebulição da cidade. Já na sala Salve o carnaval, o visitante entrará numa espécie de cinema de 360°, na metade de cima da sala, e uma linguagem de almanaque, com recortes de textos, vídeos e animação, no restante do espaço. Será a experiência mais sensorial do museu. O espaço será isolado acusticamente para que o volume possa ficar mais alto, dando a ideia, por exemplo, de o visitante ser um dos integrantes de uma bateria de escola de samba.



MÚSICA

A grande criação do Rio ganha um andar inteiro no museu. As diferentes produções da zona norte e da zona sul da cidade – reflexos da colonização – serão retratadas nesse nível expográfico. A face norte do prédio abrigará a sala Samba / Choro / Rádio, com duplo programa e experiências sobre as duas grandes matrizes da música carioca e o rico acervo da Rádio Nacional. Em uma espécie de antessala escura, uma “suíte chorística”, criada e adaptada pelo músico Beto Cazes, será acompanhada de uma animação. Num segundo espaço, duas experiências, com horários previamente estabelecidos, se alternarão, quando a sala é transformada mecanicamente em uma sala de cinema. Um filme sobre a história social do samba – de 1950, quando a ocupação da Cidade Nova teve início, até os dias de hoje –, usando diferentes técnicas, será exibido. No segundo programa, o visitante voltará no tempo e se encontrará na plateia de um programa da Rádio Nacional, protagonizado por alguns de seus grandes personagens. Na face sul, outra experiência: Carinhoso. Um espaço com cabines extremamente confortáveis e excelente acústica, onde os visitantes poderão desfrutar da música “americanizada”, trilha sonora da zona sul da cidade, como a bossa nova, entre outras.

ALEGRES TRÓPICOS

O andar mais emocional do museu tem boa parte dedicada a Carmen Miranda – personagem-síntese do MIS, que vai incorporar o acervo do museu que leva seu nome e atualmente está instalado no Flamengo. O nome do espaço faz uma alusão à obra Tristes Trópicos, do antropólogo Lévi-Strauss, lançada na mesma época. “Carmen transforma o modo de vida carioca em linguagem artística, conquista o Brasil, estiliza isso e vira sinônimo do país no exterior”, explica Sukman. Enquanto houver Brasil ou Como Carmen Miranda e sua turma inventaram o país será uma experiência dividida em três partes: a Carmen carioca, cantora; uma espécie de sala de embarque, mostrando sua transição; e a Carmen de Hollywood, de exportação. Para unir e relacionar esses momentos da vida da artista, o visitante poderá observar uma linha do tempo que compara a trajetória dela com a de Getúlio Vargas – que se confunde com a história do Brasil. Getúlio chega ao poder em 1930, após liderar a revolução; Carmen estoura nas rádios no mesmo período, com “Taí”. Eles morrem em datas próximas, 1954/55, deixando, cada um a seu modo, um legado modernizante ao país.

Como as novelas produzidas no Rio também são elementos de exportação – um fenômeno carioca, uma linguagem forjada na cidade –, outra sala, no mesmo andar, abrigará duas experiências ligadas ao tema, sendo uma delas um game interativo. Ainda nesse andar, no vão central do prédio, ficará A Banda: uma instalação formada por instrumentos que fazem parte do acervo do MIS e contam a história da música brasileira, que tem sua origem nas bandas militares – da banda do Corpo de Bombeiros, por exemplo, saiu o primeiro compositor popular brasileiro, Anacleto de Medeiros. O piano de Ernesto Nazareth, o bandolim de Jacob, a batuta de Villa-Lobos e o saxofone do Pixinguinha, entre outras preciosidades, flutuarão como uma banda voadora. Cabines multimídia dão informações sobre cada um deles, usando suportes diferentes.

É SOL, É SAL, É SUL

Ao subir mais um andar, o visitante efetivamente irá passear pelo Rio de Janeiro, por sua evolução urbana. A descoberta do mar, com a Avenida Central e os túneis, e o desmonte do Monte do Castelo, que gera o aterro, são algumas das bases da expografia deste trecho do museu. Por meio do olhar dos fotógrafos Augusto Malta e Guilherme Santos, a descoberta do Rio como uma cidade diurna e sua relação com a natureza são reveladas, na primeira metade do século XX. As fotografias de Guilherme Santos – até então inéditas – serão transformadas em 3D, com a ajuda de estereoscópios, e as panorâmicas de Malta serão ampliadas pela primeira vez. Além das fotos, haverá filmes nacionais e estrangeiros, gravuras, textos, manchetes de jornais da época, ilustrações, cinejornais e registros sonoros. Para continuar contando essa história até os dias de hoje, fechando este andar, uma grande tela irá exibir uma peça audiovisual que utiliza uma centena de filmes de ficção, editados entre si, tendo a cidade do Rio como protagonista e cartão postal do Brasil.

NOITES CARIOCAS

No subsolo, haverá uma boate, com capacidade para 80 pessoas, e um cine-teatro-auditório, com cerca de 280 lugares, para abrigar seminários, espetáculos, shows, apresentações e exibições de filmes. Na boate, serão implementados dois programas expográficos de dia: na pista de dança, a história da música na noite carioca, da boemia, da música ao vivo – do sarau da imperatriz aos dias de hoje – será projetada nas mesas; num segundo momento, as mesas serão alçadas, ficando suspensas no teto, transformando a boate em um baile funk, mostrando a genealogia da cultura black no Rio. Fora do horário de funcionamento do museu, o espaço funcionará de fato como boate. No andar, também haverá um hall da fama, com uma parede repleta de telas e monitores que exibirão imagens das personalidades representadas no MIS.
O terraço do prédio funcionará como um mirante, democratizando a vista da orla de Copacabana. À noite, o espaço irá se transformar num grande cinema a céu aberto, para até 80 pessoas, e terá anexo um restaurante panorâmico.

Consultorias para diagnóstico do acervo e desenvolvimento de conteúdo

Um diagnóstico do acervo do MIS foi o ponto de partida para os projetos de curadoria e museografia. O trabalho durou cerca de seis meses e envolveu 12 consultores – Alfredo Del Penho (Música Brasileira), Carla Siqueira (Fotografia e Memória), César Soares Balbi (Carmen Miranda), Luiz Antonio Simas (Carnaval), Luiz Carlos Saroldi (Radiodifusão), Mario Adnet (Música Brasileira - Partituras), Pedro Butcher (Audiovisual), Pedro Paulo Malta (Música Brasileira), Pedro Vasquez (Fotografia e Memória), Rachel Valença (Carnaval), Rodrigo Faour (Depoimentos) e Ruy Castro (Depoimentos e Carmen Miranda) – e três consultores másters – Sergio Cabral, Hermínio Bello de Carvalho e Jairo Severiano. A coordenação ficou a cargo de Hugo Sukman, o curador do museu, e Rosa Maria Araújo, presidente do MIS.

Atualmente, um grupo de consultores presta consultoria para o desenvolvimento do conteúdo do museu, e trabalha em parceria com a curadoria. São eles: Beto Cazes, Claudio Jorge, Daniela Name, Emílio Domingos, Henrique Cazes, Luís Filipe de Lima, Luís Pimentel, Marcelo Moutinho, Mario Sève, Nayse Lopes, Nei Lopes, Oscar Bolão, Paula Sandroni, Pedro Aragão, Pedro Butcher, Pedro Paulo Malta, Pedro Vasquez, Silvio Essinger e Tárik de Souza, sendo Sergio Cabral, Rodrigo Faour, Ruy Castro, Hermínio Bello de Carvalho e Raquel Valença os consultores másters.

Centro de documentação e projeto educativo

Além dos espaços expositivos, o museu continuará sendo uma referência em pesquisa, com um consagrado e completo centro de documentação, que será ampliado e modernizado. Pesquisadores e interessados terão acesso ao acervo digitalizado do museu por meio de 36 postos de consulta.
O MIS também terá uma sala para projetos educativos, onde estudantes de escolas públicas e privadas poderão realizar atividades com diferentes abordagens.

Acessibilidade

Além da acessibilidade física do prédio, o MIS ganhará um projeto especial de acessibilidade ao conteúdo – a exemplo do que a Fundação Roberto Marinho implementou no Museu do Futebol, em São Paulo – com o auxílio de audioguias em três idiomas (português, inglês e espanhol), maquetes táteis, áudios e outras formas sensoriais para percepção de sua narrativa.

Arquitetura e sustentabilidade

O escritório americano Diller Scofidio + Renfro é autor do projeto arquitetônico do museu e foi escolhido em 2009 por meio de um concurso de ideias, que envolveu sete dos mais importantes escritórios de arquitetura do Brasil e do mundo. Os arquitetos buscaram inspiração nas curvas do calçadão de Copacabana – o mesmo passeio que inspirou a curadoria – e desenharam um prédio capaz de dialogar com a paisagem, democratizar a vista da praia e ser um novo ícone arquitetônico para a cidade. Eles “dobraram” a calçada, transformando o prédio em um grande boulevard vertical.
No Rio, o escritório do arquiteto Luiz Eduardo Índio da Costa dá suporte ao desenvolvimento e à execução do projeto de arquitetura e coordena os projetos complementares.
O cuidado e a preocupação com o meio ambiente permeiam todas as fases do projeto, desde a demolição do prédio que ocupava originalmente o terreno onde está sendo construída a nova sede do museu, na Av. Atlântica. A demolição foi feita de forma seletiva e teve um índice de reciclagem e reaproveitamento de 99,81% dos materiais. O projeto busca a certificação Leed (Liderança em Energia e Projeto Ambiental, em português), que é concedida pelo Green Building Council.

O prédio da nova sede do MIS está orçado em R$ 88 milhões: R$ 51,5 milhões são oriundos de um empréstimo do Banco Interamericano de Desenvolvimento ao Governo do Estado do Rio e o restante vem da iniciativa privada. O projeto do novo Museu da Imagem e do Som é uma realização da Secretaria de Estado da Cultura do Rio de Janeiro, da Fundação Roberto Marinho e do Ministério da Cultura, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, tendo a Rede Globo, o Itaú e a Natura como Patronos, o patrocínio da Vale, da IBM, da AMBEV e da Light, o apoio do Grupo Votorantim e o financiamento para infraestrutura do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Sua inauguração está prevista para o segundo semestre de 2013.

Sobre o MIS-RJ

O Museu da Imagem e do Som é uma instituição de referência internacional. A sede do Rio de Janeiro, a primeira a ser fundada, lançou um gênero pioneiro de museu, que seria seguido por várias outras cidades brasileiras. Fundado no dia 3 de setembro de 1965, abriga um acervo constituído por 22 coleções particulares, que reúnem fotografias, cartazes, discos, filmes e vídeos, recortes de jornal e textos, entre outros documentos. Além das coleções doadas ou adquiridas, o MIS produz, desde 1966, sua própria coleção, chamada de Depoimentos para a Posteridade. Ela é constituída a partir da gravação, em áudio e vídeo, de depoimentos prestados por personalidades vinculadas aos diversos setores da cultura. São quase mil depoimentos que perfazem aproximadamente quatro mil horas de gravação, disponíveis para consulta. Atualmente, o acervo do museu está dividido entre duas sedes, uma na Praça XV e outra na Lapa.