O Pau Brasil

Um pouco da sua história

O pau-brasil é uma espécie arbórea característica da Mata Atlântica, que ocorre do Rio Grande do Norte a São Paulo. Em muitas das regiões de ocorrência natural ela foi erradicada; na Região Cacaueira da Bahia, sua sobrevivência deve-se, basicamente, ao modelo de agricultura - cacau-cabruca - desenvolvido para estabelecimento da cultura. Ela teve uma participação relevante e ativa na história do país, não só política como econômica, desde a colonização até os primórdios da república.

Devido à intensa comercialização da madeira para a extração de corante vermelho ( brasilina ), a região produtora da Ilha de Vera Cruz ficou conhecida como C osta do Pau-brasil e no ano de 1535, passou a se chamar oficialmente de Brasil. Essa atividade manteve-se economicamente rentável por aproximadamente 350 anos (1850-1870), quando foi progressivamente substituída por corantes sintéticos.

Por volta de 1750, a Caesalpinia echinata (pau-brasil) começou a ser utilizada para a confecção de arcos de violino e a partir do início do séc. XIX, os arcos de violino de músicos profissionais passaram a ser produzidos exclusivamente com a madeira do pau-brasil. Apesar de não se conhecer a real forte pressão que a espécie tem estado sujeita ao longo de todos esses anos, é preciso rever o modelo de exploração adotado, pois em muitas de suas áreas de ocorrência natural, ela já foi completamente erradicada. No Sudeste da Bahia, face o sistema agro florestal cacau-cabruca, a espécie mantém os maiores e mais bem distribuídos remanescentes, sugerindo que essa forma de uso do solo compatibiliza agricultura e conservação de recursos naturais. Porém, a crise da monocultura do cacau, está comprometendo em curto prazo, não só o modelo agrícola, como os remanescentes florestais associados, inclusive os de pau-brasil. É necessária a adoção de medidas que reverta o cenário que está se delineando.



Viagem à terra do pau-brasil

HISTÓRIA


O "sappang", já era conhecido e objeto de comércio entre os árabes no século IX e, possívelmente, foi introduzido na Europa pela invasão muçulmana na mesma época. A partir do século XI, desde a primeira cruzada cristã, documentos italianos e franceses comprovam o uso desta espécie vegetal asiática para tingir tecidos de púrpura -antigo privilégio de imperadores e cardeais.

O 'sappang", teve a cor de seu cerne comparada à da brasa e foi chamada nas diversas línguas européias de verzin, berzin, bersil, brésil, brazil e brasil - entre outras formas menos comuns. Importava-se o produto em feixes de toros, pressos por uma corda que lhe servia de tara.

Para a industria de tecidos, os trabalhadores esmigalhavam a madeira, e ferviam seus pedaços num caldeirão, onde mergulhavam, peças de pano até atingirem o tom desejado.

Aos poucos, o brasil substituiu corantes europeus muito antigos como o molusco murice, o gastrópode blatta e o inseto grã. Tornou-se tão popular, que foi citado no romance "Percival le Gallois", de Chrestien de Troyes (1160), no "Trésor de toutes choses, de Brunetto Latini (1261) e no relato das viagens de Marco Polo (1298).

O brasil era conhecido na Índia até pelos conquistadores e reis portugueses. As viagens precursoras no Oceano Atlântico deram origem à legendária "Ilha do Brasil" n cartografia do século XIV. No período seguinte a toponímia manteve-se com grafias e em posições variáveis, das quais apenas resistiu por algum tempo, o mítico "Brazil Rock" irlandês.

Em 1500, o mapa-mundi de Juan de la Costa, - resultado das primeiras viagens espanholas de Colombo e outros - fez ressurgir a "Ilha do Brasil" junto à costa sul-americana da Venezuela, onde se encontrou a madeira servindo de esteio às habitações indígenas de Trinidad. O historiador Capristiano de Abreu, examinando a peregrinação do Brasil pela imensidão oceânica, concluiu "ser um nome à procura de aplicação. que só a rigor, porém, lhe teria faltado".

Pedro Álvares Cabral enviou, de sua esquadra, um navio para informar à Coroa sobre o "achamento" da "Ilha da Vera Cruz".Mas foi na viagem de reconhecimento de Américo Vespucio (encarregado de mapear a costa) que uma carga de madeira de tinturaria foi cortada no "rio do Brasil" (BA).

Em 1502 um consórcio privado arrendou a nova possesão portuguesa para explorar pau-brasil e escravizar índios, durante três anos. Contrato renovado por mais sete ou dez anos, em 1505. A grande quantidade de pau-brasil que se vendeu na praça de Lisboa, entre 1501 e cerca de 1512, foi responsável pela vitória do nome popular da terra sobre o do batismo oficial.

Após avanços e retrocessos, a toponímia "Brasil" consagrou-se no mapa-mundi de Jeronimo Marini (1512). Vencida, a Coroa admitiu chamá-la de "Terra do Brazil", pela primeira vez, no ano seguinte.

O crescente tráfico francês de pau-brasil na costa brasileira, desde 1514, fez com que a Coroa retomasse o negócio da iniciativa privada. Em 1516, Cristovão Jacques construiu uma fortaleza-feitoria real junto à ilha de Itamaracá (PE). Durante quase 20 anos, o estabelecimento funcionou com ajuda dos Tupinambá, mas foi tomado pelos franceses em duas ocasiões.

O intenso corte de pau-brasil em Pernambuco, somado aos toros carregados pelos franceses e pelo ocasional contrabando espanhol, entre 1516 e 1535, deram origem à toponímia "costa de pau-brasil" e consolidaram o nome popular da terra nesse período. Mais tarde, ao se ampliar a derrubada das florestas, surgiram os nomes "brasís"- designando os índios que trabalhavam na operação -, e "brasileiros"- para os negociantes europeus da madeira no litoral.

A ocupação holandesa da região nordeste brasileira, entre 1630 e 1654, foi um golpe rude contra a fazenda portuguesa. Além do açúcar, a Companhia da Índias Ocidentais passou a exportar o pau-brasil. Os holandeses Piso e Marcgrave trazidos por Nassau foram os primeiros pesquisadores a realizar e publicar experimentações científicas sobre o pau-brasil em 1648.

No século seguinte J. B. M. de Lammark classifica a espécie como "Caesalpinia echinata", planta da família das leguminosas. O gênero foi dedicado a André Cesalpino - botânico, filósofo, médico do Papa Clemente VIII e professor de Medicina em Pisa. "Echinata", é de origem grega e significa ouriço - analogía aos espinhos das frutas do pau-brasil. Lammark assinalou que a madeira era própria para obras de marcenaria e recebía muito bem polimento, embora seu uso principal fosse o tingimento vermelho de tecidos. Mas, como o produto se evaporava, era preciso fixá-lo com alumínio e tártaro.

Em 1743 por causa das seculares devastações praticadas, o pau-brasil começou a rarear em Pernambuco. No entanto os contrabandistas franceses e ingleses traficaram o pau-brasil com os moradores de Cabo Frio.

Primeiro o rei, depois os imperadores, tentaram proteger o pau-brasil, recebendo com descrédito as primeiras notícias sobre experiências européias com corantes artificiais em 1822. Tentou-se até diminuir os custos internos da madeira, obter extrato da madeira, mas o produto tintorial brasileiro seria desalojado do mercado pelo sucesso das anilinas sintêticas. O monopólio do pau-brasil chegou ao fim em setembro de 1859.

O primeiro período da história econômica do Brasil é denominado de ciclo do pau-brasil e caracterizou-se pela exploração da árvore que medrava em abundância por essas terras. Com a derrubada predatória das árvores pelos portugueses, espanhóis, holandeses, franceses e ingleses e sem replantio para repor as perdas, passou-se ao mais completo desinteresse e esquecimento. O que ninguém poderia imaginar é que esses 3 séculos de incursões dos europeus e dos muitos contrabandistas levariam as florestas da orla marítima ao esgotamento. Toda a devastação só teve, parada quando em 1826 descobriu se a anilina de origem química, quando então o pau-brasil deixou de ser a principal fonte de matéria prima para os corantes.

Durante o século XX muitos grupos e instituições defenderam o pau-brasil.
Em 1967, iniciou-se a primeira pesquisa arquelógica-histórica sobre o pau-brasil.
O IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente) incluiu a espécie na lista das ameaçadas de extinção, em 1991. Mas mesmo protegidas por legislação específica, a derrubada das últimas ocorrências de pau-brasil continua.

ASPECTOS BOTÂNICOS

A primeira citação botânica desta espécie vegetal foi publicada por Caspar Bauhin, em 1623. Uma minuciosa descrição da planta apareceu em 1648 na "História naturalis Brasiliae" dos holandeses Piso e Marcgrave.

O pau-brasil recebeu o nome científico de Acacia gloriosa dado por Leonard Plukenet em 1691. O naturalista francês Lamarck, foi o primeiro a descrever o pau-brasil de acordo com as regras botânicas, e em 1785 o chamou de Caesalpinia echinata

Descrição: espécie da família Leguminosae e da subfamília Caesalpiniodeae, gênero pantropical que possui cerca de 200 espécies em América, Ásia e África.
De crescimento lento, o pau-brasil pode chegar a 30 metros de altura. Seu tronco é espinhento e as folhas verde-escuras e brilhantes são ovais e perenes. As flores aromáticas de coloração amarelo ouro formam cachos cônicos. Em São Paulo aparecem quando a árvore tem mais de cinco anos de idade, entre setembro e março. Em Pernambuco, floresce aos três anos, entre dezembro e maio. As principais inimigas do pau-brasil são as formigas (nativas).
O tronco varia de 30 a 40 centímetros de diâmetro, no entanto nas grandes árvores pode ultrapassar 70.

Apresenta-se irregular com tendência a se ramificar cedo, raramente atingindo mais de 5 metros de altura. A casca é pouco espessa e de cor cinza escuro com placas irregulares, que ao caírem, deixam a mostra uma superfície castanho-avermelhada.

A madeira é muito dura e pesada.. As folhas estão dispostas alternadamente nos ramos, são compostas e bipinadas com 3 a 10 pinsas e 8 a 21 folíolos por pina. As flores estão reunidas em pequenos racemos ou panículas terminais, exalando um agradável aroma adoçicado. O cálice de coloração verde-amarelada e uma corola com pétalas amarelas, sendo a pétala mediana com uma mancha central vermelho-escuro.

OS USOS DO PAU-BRASIL

"Ibirapitanga", era o nome usado pelos nativos, que significa em tupi, ybyrá (árvore, pau ou madeira) e pitanga (vermelha). Para alguns cronistas franceses do século XVI e XVII, a designação dada pelos indígenas era "araboutan". Há também aqueles que informam ser o primeiro nome empregado à madeira, enquanto o segundo era utilizado para a árvore.

Os europeus começaram usar o corante em substituição de outro similar produzido com o "sapang", para tingir tecidos. O princípio da madeira é brasilina, que ao entrar em contato com o ar passa por uma auto-oxidação e transforma-se em brasileina, a matéria corante vermelha.

A tinta servia para pintar ovos de páscoa e pastas para se escovar os dentes, ainda se produzia um composto para pintar o rosto das mulheres, atualmente conhecido por "rouge",

A madeira é de alta qualidade, e tinha largo emprego em construções e trabalhos de marcenaria, obras de torno e móveis de luxo. Entre os indígenas era muito apreciada na fabricação de armas que lhes serviam na guerra, caça e pesca (arcos, lanças).

É também indicada e de excelente aplicação na fabricação de arcos de violinos. sendo hoje exportada em pequena escala sob os nomes "Bahia Wood", "Pernambuco Wood", "Brasil Wood", "Bois du Brésil"e "Brazilienholz" (Rizzini, 1971).

O lento crescimento tem dificultado o seu emprego nas vias públicas. O uso medicinal é ocacional, como adistringente, corroborante e secante. A casca cozida para debelar diarréias e disenterias, além da casca em pó para o fortelecimento da gengiva.

CONSERVAÇÃO

A exploração predatória poderá levar a extinção da espécie. Em 1605 existia o "Regimento do Pau-brasil" para proteger o monopólio. na época colonial já faziam-se replantios.

No império muitos botânicos e políticos tentaram defendé-lo, mas as providéncias não foram suficientes.

Alguns locais de ocorrência estão hoje protegidos. No estado da Bahia foi criada a Estação Ecológica do Pau-Brasil, em uma área de 1.145 hectares no município de Porto Seguro. Em Pernambuco a Reserva Ecológica de Tapacurá possui um bosque com cerca de 200.000 árvores cultivadas.
Na Paraiba e no Rio Grande do Norte estão localizadas respectivamente a Estação Ecológica de Camaratuba e a Reserva de Morro Branco.

No Rio de Janeiro, o tombamento de 38 hectares da Boca da Barra e a recém criada Reserva do Pau-Brasil no município de Cabo Frio, são as únicas áreas legalmente protegidas.

Ainda hoje constitui fonte de exportação dos estados do Espírito Santo e da Bahia para toda a Europa, principalmente para a Alemanha, onde é utilizado na confecção de arcos de violino. Por ser um instrumento delicado, o arco deve ser feito de madeira flexível, sem nós e serrado de modo que as fibras acompanhem sua curvatura.O pau-brasil é considerado uma espécie botânica em extinção.

Preocupada com isso, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Embrapa, vinculada ao Ministério da Agricultura e do Abastecimento, está desenvolvendo um projeto que busca recuperar parte da riqueza genética perdida pelo pau brasil.

Pesquisadores da Embrapa estão estudando uma das últimas populações de pau-brasil existentes no sul da Bahia, a fim de poder utilizá-la no repovoamento das áreas da Mata Atlântica, onde a espécie não existe mais.Nosso país é o único no mundo que possui o nome de uma árvore.

Pesquisas realizadas apontam que mais de 96% da população brasileira desconhece que pau-brasil é a árvore nacional, de acordo com Lei n. 6.607 de 07/12/1978, e que em 03 de maio comemora se o dia do Pau-brasil.

Nota: No Parque Nacional da Tijuca, temos um antigo Pau-brasil frente ao Restaurante "Os Esquilos" e outro mais pequeno frente ao lago da saída do Açude da Solidão.



EXTRATOS DO PROGRAMA GLOBO RURAL 1000
TV GLOBO, 1999.


Existe um estudo pioneiro do pau-brasil contra o câncer em Pernambuco. Cobaias foram inaculadas com "brasileina" e tiveram regressão dos tumores. O índio tomava chá do pau-brasil para curar alguns males. Quando os portos foram abertos por Dom João VI, existiu o livre comércio, menos para o pau-brasil. Pedro I declarou a independência em 1822 e o pau-brasil como patrimônio nacional. Existiu em Pernambuco um homem chamado o "apóstolo do pau-brasil", Roldão Siqueira Fontes (ele já morreu, a sua filha continua o seu trabalho pioneiro na preservação do pau-brasil), quem conseguiu em 1978 que se declare o pau-brasil árvore nacional. Ele plantou em 1970, em São Lourenço da mata (Capital nacional do pau-brasil) 50.000 mudas. Cada cacho de flores do pau-brasil tem 50 flores, cada uma com 4 pétalas Quarenta dias depois da floração estouram as vargens. Cada árvore adulta da entre 1000 e 2500 sementes. A semente do pau-brasil, de preferência tem de ser plantada imediatamente após a coleta, um mês depois já perdeu o poder de germinação. Germina em 3 ou 4 dias.

Fontes:
Prof. Francismar F. A. de Aguiar -Instit. de Botânica de São Paulo
"Informativo verde"
"http://www.paisagismobrasil.com.br"
"Viagem à Terra do Pau-Brasil", Márcio Werneck da Cunha/ Haroldo Cavalcanti da Lima, Agência Brasileira de Cultura, Petrobrás, 1992. "História do Brasil", volume I, Osvaldo Rodrigues de Souza,1992.
Em especial:
Marta Zampieri - Nos enviou a matéria inicial sobre o tema, seus textos foram inseridos nesta compilação e todas as imagens enviadas foram inseridas nesta matéria.





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