FORTALEZA DE SANTA CRUZ
Niterói


Localizada no bairro de Jurujuba, na boca da Barra da Baia de Guanabara, a fortaleza está instalada sobre um promontório à frente dos Morros do Pico e dos Macacos.

Foi Villegagnon quem primeiro utilizou o local para fins militares, quando, em 1555, improvisou uma fortificação com algumas peças de artilharia que, em 1567, foi ocupada pelos portugueses que, então, a ampliaram, transformando-a no principal ponto de defesa da baia. Nessa ocasião, recebeu o nome de Bateria de Nossa Senhora da Guia.

Seu batismo de fogo ocorreu em 1599, quando impediu que a esquadra flamenga, comandada por Oliver Van Noord, entrase na baia (O Flamengo a quem devemos o nome do Flamengo!). Com a ameaça das invasões holandesas no Brasil, no início de século XVII, a bateria foi ampliada, recebendo vinte canhões, passando a chamar-se Fortaleza de Santa Cruz. Em 1710, impediu, juntamente com a Fortaleza de São João, a entrada na barra da esquadra corsária do Francês François Duclerc.

Nessa mesma época, soube-se que a França organizava uma expedição, ainda mais bem preparada, contra o Rio de Janeiro, sob o comando de René Duguay Trouin, o que levou o rei de Portugal a determinar que uma forte corrente passasse as ligar as Fortalezas de Santa Cruz e da São João. Apesar disso, o governador do Rio de Janeiro relaxou a ordem e ainda determinou o desguarnecimento da fortaleza que, já então contava com 44 canhões. Assim não foi difícil a Duguay Trouin, em 1711, tomá-la e invadir o Rio de Janeiro.

De 1730 a 1831, manteve-se a fortaleza completamente armada, com 135 peças de artilharia. Em 1863, iniciou-se a construção da fortaleza como é hoje, em cantaria, com três andares: duas ordens de casamatas, tendo a primeira, vinte canhões, a segunda vinte e um e o terceiro andar equipado com canhões de grosso calibre.

Localizada em ponto de difícil acesso, a Fortaleza de Santa Cruz sempre serviu de prisão política. Lá estiveram, entre outros, José Bonifácio Andrada e Silva; o caudilho uruguaio, André Artigas; o primeiro presidente do Uruguai, Frutuoso Rivera; o coronel Bento Gonçalves, herói da Guerra dos Farrapos. Na fase revolucionaria de 1922 a 1930, foram aprisionados ali o capitão Eduardo Gomes, Estilao Leal, Alcides Araújo e Juarez Távora. Esses três últimos foram os únicos, até hoje, a conseguir fugir da fortaleza. Este fato valeu a seu então comandante, Mascarenhas de Moraes, uma transferência punitiva.

Logo á entrada, na praça fronteira à fortaleza, encontram-se dois modernos canhões de 178 milímetros, instalados em 1942, voltados para alto mar.

Cruzando a guarita de acesso à fortaleza, um pátio totalmente calçado em pedra de cantaria, conduz à Capela de Santa Bárbara, construída no século XVIII. No interior a imagem da Padroeira, em tamanho natural (1,43 m.), tem, numa das mãos, um cálice, que representa a virgindade e, em outra, uma espada, o que a torna guerreira, e por isso, a padroeira da artilharia. Envolvendo a imagem, há uma história, segundo a qual a santa fora trazida para aquele lugar por engano; no entanto sempre que se tentava removê-la dali, o que, na época, somente poderia ser feito por mar, um fato estranho acontecia: ao colocar a imagem no barco, as águas do mar tornavam-se, subitamente, agitadas, impossibilitando seu transporte. Depois de muitas tentativas, finalmente, a imagem foi deixada na capela, pois era ali, segundo se entendeu, que a santa queria ficar.

Seguindo adiante, chega-se ao local chamado Cova do Onça, uma sala onde os presos eram torturados, em uma roda de madeira com lâminas cortantes, sendo, então, seus despojos jogados ao mar, através de um poço, localizado no lado oposto á entrada da sala. O nome “Cova do Onça” provém da explicação da guarnição, ao ser perguntada pelos outros presos sobre a origem dos gritos dos torturados, de que eram os rugidos de uma onça, aprisionada no local.





A fortaleza possui três baterias de artilharia, dispostas em níveis diferentes. A mais moderna é a Bateria de Santa Teresa ou Bateria do Imperador, composta por quatro peças de fabricação inglesa, sendo duas de 150 milímetros, datadas de 1867, e duas de 120 milímetros, de 1872. São canhões, com a boca em seção hexagonal onde se colocava o projétil, carregado com pólvora na culatra. No local, um mastro de pau-brasil com cerca de 18 metros de comprimento, serve ao hasteamento da Bandeira Nacional. A segunda bateria a ser construída foi a Dois de Dezembro, no nível inferior, composta de vinte e uma casamatas, dispostas em semicírculo. O comandante dessa bateria colocava-se na décima primeira casamata, de onde tinha uma visão perfeita de todas as outras, que eram equipadas com canhões ingleses de 120 milímetros, fabricados entre 1862 e 1865, e cujos disparos tinham um alcance entre 5 e 8 km. A terceira bateria, é também a mais antiga, situada no nível mais baixo da fortaleza, é a Vinte e Cinco de Março, composta por vinte casamatas. Os canhões dessas duas últimas baterias eram imóveis, o que fazia com que a mira fosse obtida através de duas pequenas vigias, instaladas uma de cada lado da abertura onde ficava a boca do canhão. Um soldado ficava em cada vigia, e quando o navio inimigo era avistado pelos dois, ao mesmo tempo, o canhão era, então, disparado.

Próximo á Bateria Vinte e Cinco de Março ficava no passado, o paredão de fuzilamento: um muro de rocha, junto a uma fonte natural, que era utilizada para limpar o local de execução. Ainda são visíveis as marcas de balas nesse paredão.

Na outra extremidade dessa bateria, encontra-se uma pequena abertura, que serviria de fuga aos oficiais, em cãs de perigo para a fortaleza, conduzindo ao mar, através de uma escadaria. Foi por este local que ocorreu a última fuga de presos registrada na historia da fortaleza.

Algumas celas ainda são encontradas. Há uma, totalmente escura, por onde o ar e a claridade entram através de uma abertura mínima. È impossível ter idéia da dimensão da cela, mas sabe-se que abrigava de presos. Outras, denominadas “prisões no passado” tem uma característica curiosidade: são 5 celas com alturas diferentes, o que permitia que, em três delas, os presos ficassem em pé; a quarta cela permitia apenas ficar sentado, e a última somente deitado. Eram fechadas por grades, voltadas para um pequeno pátio, onde havia uma forca. Conta-se que o preso que não pudesse ser colocado nessas celas, devido à superlotação, era, então, enforcado.

Acima da forca, há uma cisterna, construída em 1738, com capacidade para cerca de duzentos mil litros. Como a fortaleza não dispunha de água potável, esta era trazida por navios e transportada em tonéis, pelos presos, até ali.

A fortaleza, em seu conjunto, é uma construção sólida, com grossas paredes de cerca de um metro de espessura; possui casamatas, corredores e masmorras em pedra de cantaria, que se constituem em notáveis trabalhos de arquitetura militar. Um dos pontos de interesse da fortaleza é a belíssima vista que oferece do Rio de Janeiro, especialmente do Pão de Açúcar, cujas vertentes oceânicas dificilmente podem ser apreciadas. Por ser região sob controle militar, o quadro natural esta preservado, revelando a mesma beleza que ofereceu aos primeiros navegadores que cruzaram à barra da Baia de Guanabara.



Fonte: GUIA MICHELIN Rio de Janeiro, Cidade e Estado, 1990.